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Estratégias nutricionais para tratamento de hiperlipidemias em crianças e adolescentes com diabetes tipo 1

            Crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 merecem atenção especial e investigação precoce da presença de hiperlipidemias pois estão no topo da lista de risco cardiovascular segundo a Associação Americana do Coração (American Heart Association/AHA). Sabe-se que aproximadamente 40% a 50% das crianças com lipídios elevados continuarão com níveis séricos anormais na adolescência e na fase adulta. Pensando no tratamento nutricional que deve ser priorizado para essa população a revista Diabetes Educator publicou, em junho deste ano, um artigo com extensa revisão sobre os guias atuais de orientação nutricional baseado em evidências e as metas de tratamento para hiperlipidemia em crianças com diabetes tipo 1. O artigo é um estudo de caso comentado e apresenta uma criança do sexo feminino com diagnóstico de diabetes tipo 1 a quatro anos que iniciou acompanhamento ambulatorial no Hospital Infantil da Filadélfia, na Pensilvânia.
             Maria, então com 12 anos, iniciou acompanhamento após seis meses de diagnóstico. O primeiro exame de sangue com perfil lipídico foi realizado quando a menina tinha 9 anos e 11 meses e mostraram alteração de colesterol total (CT = 188mg/dL) e LDL - colesterol (LDL-c = 122mg/dL). Não foram encontradas anormalidades no exame da glândula tireóide. Neste momento a HbA1C de Maria era 6,8%.
Três meses depois, seu IMC aumentou 90%, caracterizando sobrepeso. O diabetes estava bem controlado (7,4%), mas piorou em relação ao último exame. A história dietética revelou excesso de alimentos gordurosos, na forma de lanches ricos em gordura saturada como chips, bolos e manteiga de amendoim (hábito comum nos países norte-americanos). A primeira estratégia nutricional empregada foi redução da ingestão de gordura saturada e colesterol dietético. Pensando no benefício das fibras solúveis foi orientada ingestão de 7 a 13g/dia de β-glucana como segunda estratégia nutricional. Maria foi estimulada a ingerir aveia diariamente e aumentar o consumo de frutas cítricas.
            A paciente só retornou ao ambulatório quase um ano depois. Nesta ocasião ela estava então com 10anos e 9 meses. Seus exames bioquímicos mostraram que ela mantinha CT e TG acima dos valores recomendados (CT = 184mg/dL, LDL-c = 108mg/dL). A HbA1C havia aumentado mais uma vez, agora estava 7,9%, porém ainda em bom controle para uma criança em fase escolar. Ela perdeu um pouco de peso, mas o IMC se manteve entre 85 e 90% (sobrepeso). Neste momento foi empregada como terceira estratégia nutricional a ingestão de alimentos fontes de fitoesteróis.
            Foi prescrito consumo de 2 a 3g de fitoesteróis/dia. A literatura afirma que essa suplementação pode resultar em redução de 6% a 15% do LDL-c. Fontes naturais de fitoesterol são cereais, frutas, vegetais e óleos vegetais. No entanto, é muito difícil encontrar fitoesteróis em quantidades suficientes para fornecer a necessidade diária. As indústrias alimentícias vêm se especializando em produtos enriquecidos com fitoesteróis como margarina, iogurtes, barra de cereais, granolas e sucos.
           O LDL-c foi repetido quatro meses depois de acrescentar o fitoesterol à dieta de Maria. O resultado mostrou redução adicional de 22% no LDL-c (CT = 146mg/dL, LDL-c = 84mg/dL). Seu controle glicêmico melhorou (HbA1C 7,2%) e seu IMC diminuiu para 75% a 85%. O efeito cumulativo das mudanças dietéticas, mudanças de peso corporal e melhora do controle glicêmico reduziram significativamente o LDL-c de 122mg/dL para 84mg/dL, uma redução de 31%.
          Este artigo é relevante, pois diversos estudos em indivíduos diabéticos adultos já mostraram resultados significativos com suplementação de fitoesteróis, no entanto, ainda não se tinha resultados positivos em crianças com diabetes tipo 1. Outro ponto importante é que durante todo o acompanhamento foram empregadas somente estratégias nutricionais sem uso de medicação hipolipemiante, o que mostrou eficácia no tratamento. O artigo dispõe ainda de tabelas de fontes alimentares de fitoesteróis, recomendações gerais de mudanças no estilo de vida e referências de lipídios séricos.
Fonte: SBD

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